Todo mundo tem que fazer terapia?

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Na lista de muitas obrigações difundidas na mídia sobre o comportamento humano, a falsa premissa – todos devem fazer terapia – está em destaque. Sinto alegria ao perceber que passamos do – “Psicólogo é coisa de louco” – para essa abrangência toda, mas como psicoterapeuta, acolho a afirmação com prudência. 

Primeiro porque o viés da obrigatoriedade sempre tende a gerar uma resistência. Insira a frase “você é obrigado a…” e observe o evento não se concretizar. Segundo porque dentre os motivos que poderiam justificar a busca por psicoterapia, a imposição é do tipo que invalida o processo.

Quando a terapia não funciona

Esse fenômeno é recorrente no caso de adolescentes que chegam até o consultório com a fala: “meus pais disseram que eu precisava vir aqui”. Independente da boa intenção dos pais e até mesmo do fato deles estarem com razão, se o processo não for conduzido de forma que o jovem encontre motivos por si para estar ali, certamente fracassará.

E com os adultos não é diferente. Nesses casos, o que geralmente muda é que o fator impositivo não é vinculado aos pais, mas ao pessoal do RH, à esposa(o), o médico e o mais recente motivo – porque fazer terapia está se tornando “Life style”.

Memes, podcasts, entrevistas, a solução dos problemas dos famosos, frases de efeitos, conteúdos reflexivos, todos repetindo a mesma indicação – faça terapia. A pessoa pensa: se todo mundo faz, então devo fazer – se tanta gente indica é porque é bom – marca horário, senta na poltrona e? Por que é mesmo que eu estou aqui?

A motivação como princípio básico

Então, não é que a sugestão/indicação esteja incorreta e seja ruim, mas quando se trata de busca por psicoterapia, quaisquer determinantes, que não sejam subjetivos, não vão gerar resultados. Isso acontece porque a terapia é um processo colaborativo e impulsionado pela motivação.

É importante ressaltar aqui, que quando falo de motivação, não estou falando daquele tipo usado pelo personal trainer, que se refere ao incentivo, mas sim do motivo interno que leva a pessoa a executar uma ação.

“Sempre que sentimos um desejo ou necessidade de algo, estamos em um estado de motivação. Motivação é um sentimento interno é um impulso que alguém tem de fazer alguma coisa”. (Rogers, Ludington & Graham, apud. Todorov e Moreira, 2005)

Em termos práticos, para que a psicoterapia possa ocorrer é preciso haver uma necessidade própria. Por exemplo: a pessoa busca atendimento porque o(a) companheiro(a) reclamou da sua postura passiva diante da vida, alegando que traz problemas para a relação. Não sendo essa postura algo que desagrada à pessoa que será atendida, ela provavelmente não conseguirá a motivação necessária para promover a mudança.

Existe ainda uma percepção distorcida de que o(a) psicólogo(a), tal como o médico, examinará a pessoa, determinará o que ela precisa mudar e dirá o que ela deve fazer. Mas a transformação não é um processo que ocorre de fora para dentro, mas de dentro para fora e não existe uma receita que satisfaça a todas as individualidades existentes.

Dessa forma, a psicoterapia inicia a partir de uma demanda pessoal. O(a) psicólogo(a) escutará a queixa que levou a pessoa a buscar atendimento e a partir daí uma aliança de trabalho é construída, com uma responsabilidade compartilhada acerca dos objetivos que se pretende atingir com o tratamento.

Como se dá o processo psicoterapêutico

Durante o acompanhamento, técnicas e métodos psicológicos são utilizados visando explorar a subjetividade e identificar questões internas e externas que contribuem para a problemática apresentada e/ou outras questões que possam estar gerando sofrimento ou prejuízo na vida da pessoa.

A terapia exigirá, de quem a busca, o desejo de olhar para dentro de si, resgatar memórias, observar pensamentos, sentimentos e comportamentos, examinar situações, etc. Para isso é preciso estar disposto a se envolver em um trabalho emocional e autorreflexivo, o que só é possível com uma atitude curiosa por parte do(a) atendido(a).

O psicoterapeuta fará uma escuta atenta e empática guiando o processo para obter uma boa compreensão dos fenômenos relatados. Ele usará o seu conhecimento teórico científico para analisar os dados e em conjunto com o paciente/cliente obterá um entendimento global das questões abordadas.

Como podemos observar, a terapia necessita da participação ativa do(a) paciente e quando isso não ocorre ela pode se tornar um processo lento, estagnado e menos eficaz. Há casos que o paciente sente dificuldade de mergulhar no processo devido a resistências emocionais, bloqueios, receios, desconfiança, etc. Mas, estes obstáculos podem ser dissolvidos e transformados, diferente da ausência de demanda, que pouco pode ser feito.

Benefícios da psicoterapia

Então, como vimos, a psicoterapia não é indicada a todos, mas quando há a motivação necessária, certamente haverá benefícios. E o seu propósito vai além da ajuda para com o sofrimento psicológico. Ela pode proporcionar um espaço seguro, confidencial e sem julgamentos, onde as pessoas podem explorar seus sentimentos e experiências mais íntimas, promovendo a autoconsciência e o crescimento pessoal.

A terapia também desempenha um papel vital na melhoria das relações interpessoais e da comunicação. Muitos indivíduos a procuram para desenvolver padrões de relacionamento mais saudáveis, resolver conflitos e aprender habilidades de comunicação eficazes. Isto não só fortalece os relacionamentos existentes, mas também ajuda os indivíduos a construir conexões novas e significativas em suas vidas pessoais e profissionais.

Com ela também é possível desenvolver habilidades eficazes de regulação emocional. Pessoas que se sentem oprimidas, carregadas pelas emoções ou com sintomas persistentes de problemas de saúde mental podem necessitar deste auxílio. Isso também se estende àqueles que apresentam desequilíbrio emocional devido a traumas ou dificuldades em adaptar-se a grandes mudanças na vida, como divórcio ou perdas.

Outra necessidade que frequentemente leva as pessoas a procurarem apoio psicológico é a presença de algum diagnóstico de transtorno psíquico. Nesses casos a terapia pode fornecer o apoio, as ferramentas e orientações necessárias para gerir a sua saúde mental, construindo estratégias e habilidades para lidar com a condição.

A terapia Cognitivo Comportamental possui eficácia cientificamente comprovada em diversos transtornos psicológicos, entre eles, destaca-se:

  • Transtornos de ansiedade
  • Transtornos depressivos
  • Transtorno bipolar
  • Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
  • Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
  • Distúrbios alimentares

Por fim, a terapia pode ainda se dedicar ao processo de autoconhecimento, sendo uma ferramenta poderosa que permite aos indivíduos uma autodescoberta significativa, obtendo insights profundos e promovendo uma transformação pessoal. Ela permite uma compreensão mais ampla de si mesmo e dos fatores que moldam as suas experiências, capacitando-o a fazer escolhas mais conscientes e viver uma vida mais autêntica.

Conclusão

A psicoterapia é uma jornada pessoal que requer motivação interna e envolvimento ativo do paciente. É importante que a busca por terapia seja por razões próprias e não por imposições externas. Dessa forma é possível atingir os mais variados benefícios que ela pode oferecer, sendo uma ferramenta valiosa na promoção de bem-estar emocional, crescimento pessoal, prevenção e tratamento de transtornos psicológicos e desenvolvimento de habilidades.

Agora que você já sabe em quais situações a psicoterapia pode lhe auxiliar, você já está pronto para dar o primeiro passo nesta jornada. Solicite orientação profissional de um psicoterapeuta licenciado para determinar a adequação e eficácia do acompanhamento psicológico para a sua situação específica. Caso queira agendar uma avaliação da sua demanda, clique aqui.



Bibliografia consultada:

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452005000100012

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