Terapia, Psicoterapia e Acompanhamento Psicológico
Você sabia que terapia, psicoterapia e acompanhamento psicológico são termos distintos e representam práticas diferentes?
Em minha experiência percebo que o crescente interesse pelas terapias em geral levou à propagação de diversos formatos, que muitas vezes são confundidos pela população.
É fundamental que haja uma compreensão clara dessas diferenças para que se escolha, de forma consciente, a abordagem terapêutica mais adequada às suas necessidades.
O que é terapia?
O termo terapia se popularizou bastante nos últimos anos, passando a ser utilizada como sinônimo de momento “relax” ou atividade que gera bem-estar.
É comum ouvirmos expressões como – “futebol é a minha terapia”. É verdade que momentos de lazer, além de prazerosos, contribuem com a manutenção da nossa saúde mental, mas é sobre a terapia como oferta de atendimento profissional que falarei aqui.
Origem e evolução
“Terapia” é uma palavra de origem grega utilizada inicialmente na medicina, por Hipócrates e Galeno, e significa “tratamento”; “cura”.
Por se tratar de um termo amplo, pode ser utilizado em muitos contextos diferentes e se referir a inúmeras modalidades de tratamento, tais como: terapia medicamentosa, quimioterapia, fisioterapia e, inclusive, tratamentos sem base científica (Conselho Federal de Psicologia – CFP, 2022).
Recentemente observamos uma expansão das terapias holísticas, por exemplo. Esse tipo de terapia é considerada uma prática complementar, muitas vezes utilizada em conjunto com a medicina convencional para promover a saúde e o bem-estar.
Pode incluir uma variedade de abordagens, como medicina tradicional chinesa, Ayurveda, meditação, terapias energéticas, entre outras. O profissional que executa essas abordagens é chamado de terapeuta.
Terapeuta x Psicoterapeuta
Para distinguir o acompanhamento psicológico dos demais tipos de terapia, o CFP orienta a utilização do termo Psicoterapia ao nos referirmos ao tratamento psicológico. O(a) psicólogo(a) que oferece psicoterapia é chamado de psicoterapeuta.
Popularmente, observa-se que o termo psicoterapeuta acaba sendo abreviado para terapeuta. Mas é importante destacar que o trabalho do(a) psicólogo(a) e do terapeuta são diferentes em termos de formação, abordagens e áreas de atuação.
Psicoterapia
Definição
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia, a psicoterapia utiliza métodos e técnicas, sob uma perspectiva biopsicossocial, reconhecidos pela ciência por sua eficácia, e orientados pela ética profissional, para intervir numa situação/problema.
Essas intervenções ocorrem através de um relacionamento interpessoal entre o(a) psicoterapeuta e a pessoa atendida.
Diferente das terapias citadas anteriormente, que possuem um foco mais amplo e são voltadas para saúde e bem estar, a psicoterapia está mais relacionada à saúde mental, emocional e comportamental.
Seu objetivo é promover mudanças, trabalhar o autoconhecimento e buscar soluções para questões instaladas.
A Resolução do CFP n.º 10, de 20 de dezembro de 2000 especifica e qualifica a psicoterapia como prática do(a) psicólogo(a), mas é importante ressaltar que a psicoterapia não é uma prática de uso exclusivo dos(as) psicólogos(as).
Historicamente a psicoterapia ficou atrelada a profissionais mais afinados com a área da saúde mental, como, tais como, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, entre outros.
Expansão
Atualmente, devido ao crescente interesse em saúde mental e bem-estar e ao aumento da demanda por terapias, observamos a proliferação de cursos de formação em psicoterapia.
Essas capacitações são diferentes do processo de educação tradicional, em vários pontos, principalmente, por serem mais dinâmicas e permitirem o acesso de pessoas das mais variadas formações.
A maioria desses cursos não exige graduação em psicologia ou outra área associada à saúde mental, sendo que alguns deles, não exigem nível superior.
Normalmente são oferecidos na modalidade à distância, possuem um período curto de duração, muitos não dispõem de estágio – características importantes que destoam da formação tradicional.
Esses cursos são oferecidos por centros de treinamento, escolas profissionalizantes ou institutos e podem ser projetados para pessoas que desejam trabalhar como conselheiros, terapeutas ou em áreas relacionadas, mas que não têm uma formação universitária completa.
É importante ressaltar que estes profissionais não são respaldados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e portanto, suas práticas não são regulamentadas ou fiscalizadas pelo mesmo.
O CFP é uma autarquia que regulamenta, orienta e fiscaliza o trabalho de psicólogos(as), promovendo espaços de discussão sobre temas da psicologia que levem à qualificação dos serviços profissionais prestados pela categoria à sociedade.
Psicoterapeuta x Psicólogo
Até aqui, podemos resumir que – ser terapeuta ou psicoterapeuta, não é sinônimo de ser psicólogo.
O título de psicólogo(a) é permitido apenas a pessoas que concluíram a graduação em Psicologia.
Para evitar distorções, que podem gerar equívocos quanto ao profissional que se está contratando, prefiro utilizar o termo acompanhamento psicológico para designar o processo de psicoterapia desenvolvido pelo(a) psicólogo(a).
Acompanhamento Psicológico
A psicoterapia realizada com psicólogo(a) possui características próprias e distintas dos demais profissionais que atuam na área, que podem ser relevantes você considerar no momento em que busca algum tipo de “terapia”.
Trabalhar com saúde mental é uma tarefa complexa, pois envolve lidar com uma multiplicidade de subjetividades, singularidades e situações das mais diversas.
É por isso que entendemos que o nosso processo de formação nunca chega ao fim, pois nenhum repertório acumulado dará conta de responder à infinidade de contextos que chegam até o consultório.
Além disso, como o ser humano está em constante transformação, a necessidade de atualizações e novos aprendizados está sempre presente.
Atuamos com o bem mais precioso: a saúde. Devemos estar cientes da seriedade e responsabilidade em nossa prática. Os desafios vão desde orientações inadequadas que podem agravar os sintomas de transtornos psíquicos, causar retraumatização, dano emocional, até risco de vida.
Por esse motivo a profissão de psicólogo(a) possui algumas exigências específicas. Dentre os diferenciais acerca desse profissional, destaca-se:
- Formação: psicólogos(as) completam um extenso programa de graduação em psicologia (mínimo 5 anos) seguido por estágio supervisionado e, em seguida, obtêm licenciamento para praticar a psicologia. Além disso, maioria investe em pós graduação para se especializar em determinada área/assunto. Através do investimento em psicoterapia pessoal, os(as) psicólogos(as) já vão desenvolvendo habilidades clínicas, desde a formação inicial. No início da carreira é orientado que o investimento em supervisão, com profissional experiente, se mantenha por determinado período, como forma de mentoria e apoio.
- Enquadramento legal e ético: os(as) psicólogos(as) são regulamentados pelo Conselho Federal de Psicologia e possuem um código de ética profissional estrito que estabelece padrões que devem ser seguidos em sua prática profissional. Isso inclui princípios como confidencialidade, respeito à dignidade e autonomia do cliente/paciente. Além disso, o código fornece diretrizes claras para os(as) psicólogos(as), ajudando-os a tomar decisões éticas e moralmente responsáveis em situações complexas e desafiadoras. Ao aderir a esses padrões, paciente e profissional são protegidos, evitando situações inadequadas que possam resultar em consequências negativas para ambos.
- Foco na Saúde Mental: como profissionais de saúde mental, os(as) psicólogos(as) têm um profundo entendimento dos processos mentais e emocionais e estão bem equipados para ajudar lidar com uma variedade de questões psicológicas. Também estão aptos a realizar avaliações psicológicas formais, diagnósticos e tratamento de uma variedade de condições psíquicas e transtornos mentais, como ansiedade, depressão, traumas, transtornos de personalidade, entre outros. Eles podem trabalhar em estreita colaboração com outros profissionais de saúde mental, como psiquiatras, para coordenar o tratamento de clientes com necessidades complexas.
- Abordagem baseada em evidências: psicólogos(as) podem praticar uma variedade de abordagens terapêuticas, incluindo Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), psicanálise, terapia humanista, terapia sistêmica e outras. A escolha do método terapêutico pode ser baseada na formação do psicólogo, nas necessidades do paciente e na eficácia comprovada para o problema específico. Todas as abordagens utilizadas possuem uma base sólida de pesquisa científica que demonstram sua eficácia.
- Relação Terapêutica: a qualidade da relação entre o psicoterapeuta e a pessoa atendida é um fator importante no sucesso da psicoterapia. Psicólogos(as) são treinados para estabelecer uma aliança terapêutica sólida e empática, na qual os pacientes se sintam ouvidos, compreendidos e apoiados durante o processo terapêutico.
- Autoconsciência, autodesenvolvimento e autoconhecimento: como citado anteriormente, os(as) psicólogos(as) precisam investir no seu processo de psicoterapia durante e após a formação. Essa exigência é importante para evitar que questões do psicoterapeuta possam impactar na sua prática. É imperativo que o(a) psicólogo(a) tenha trabalhado em seus conflitos, explorado a sua subjetividade, examinado suas motivações, valores e preconceitos, para evitar má conduta profissional. A psicoterapia pessoal permite, ainda, a compreensão da perspectiva da pessoa atendida, ajudando a desenvolver empatia e compreensão das experiências e desafios enfrentados no processo.
Conclusão
Podemos resumir que terapeutas estão relacionados a diversas áreas e profissões, incluindo aqueles que possuem uma abordagem integradora, e que as terapias tratam diferentes aspectos da saúde e bem estar.
Já a psicoterapia está mais relacionada à saúde mental sendo praticada historicamente por profissionais que atuam nesta área (psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, etc.).
No que diz respeito ao psicólogo, percebemos que ele pode ser nomeado como terapeuta, tem a possibilidade de ser um psicoterapeuta e é o único que detém o direito de se autodenominar psicólogo(a).
É um dos profissionais de referência para exercer a psicoterapia e possui amplo conhecimento na área de saúde mental.
Agora que você sabe das diferenças poderá fazer uma escolha mais condizente com a sua expectativa, no momento que decidir buscar por auxílio terapêutico.
É importante que, independente do profissional escolhido, você se atente para averiguar se o mesmo é qualificado, a base de sua formação e se a sua abordagem terapêutica ressoa com as suas necessidades, objetivos e preferências.
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Bibliografia consultada:
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2023/06/caderno_reflexoes_e_orientacoes_sobre_a_pratica_de_psicoterapia.pdf
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2000/12/resolucao2000_10.pdf